sexta-feira, agosto 04, 2006

"escrever é necessário, viver não".

Estou bêbada, não caindo, mas estou molinha, minha cabeça está doento há horas, é uma dorzinha leve, mas não boa, é ruim. Acho que é por causa da insônia que tem me perseguido de umas duas semanas pra cá. Descobri, ou melhor estou, descobrindo, que não sinto mais nada, que não estou mais apaixonada, que me desprendi completamente, que o meu amor chama-se sempre - espero - jornal,
porém o prazer possibilitado me é inalcansável, compreendem?
Mas não é assim também digamos qualquer um, nê.
É um sonho de perseguição, é um estilo específico, é muito - absolutamente - muito maior do que qualquer coisa, descobri descobrindo que preciso digo pra continuar respirando.
Nada hoje me é inalcansável pelo pensamento que flui incandeando a priori,
como sol que gela os ossos em cada partida, sinto a possibilidade da partida, que é sôfrega, porém necessária, é uma realidade,
O espetáculo já se foi, não sei ou certo, acho que nunca, acho que nunca,
porque hoje eu estava pensando particularmente nessa questão do espetáculo e da decadência do real e dos valores, mas afinal o que é real, o que se auto-intitula real?
Porque o real na existência pode não ser na essência,
porque o real simplesmente não existe sem a auto-imagem o que é mentira,
O mundo prefere a mentira, vangloria a mentira, inaltece a mentira e ridicula a verdade, o que piora é o fator externo das coisas que não nos cercam solidamente,
Concretamente nos cercam, estão ali, sempre a nos atormentar,
Sempre nos perseguindo, levando as últimas conseqüências tudo o que é permissível,

Tenho andado a procura, tenho andado a procura de espaço, em um espaço que é enorme, que é o Rio de Janeiro, que é abolutamente incomprensível, não sei se o que eu procuro está longe, mas espaço é essencial
Quero respirar, me sinto sufocada, absorta, comprimida entre os pedaços de asfalto existentes,
O espaço do Rio - descobri - me é superficial porque estou a deriva, e não gosto de estar a deriva, não gosto da sensação de saber - ainda que eu minta pra mim mesma e quase sempre faço isso, minto pra mim mesma, e não pros putros, deveria era fazer o contrário - que estou prestes a enlouquecer ou a me auto-abandonar, é uma coisa esquisita,
Porque eu vou deixando fluir, acho que só pra escrever, acho que só pra acalmar, acho que só pra sair do prumo, pirar, deixar literalmente fluir.
Ainda que saiba que é necessário, que determinadas coisas são descargas mentais, eu simplesmente recuso,
me sinto uma observadora de minha própria vida e não dona da minha própria vida, por mais que procure - e sempre procuro - viver de acordo com o que eu acredito, é que o que eu acredito simplesmente não é aceitado de forma coerente, "Será que tudo que eu gosto é imoral, é ilegal, engorda?
Sei lá, penso que não (...)
Enfim, escrever é necessário, viver não.